Os relacionamentos modernos e suas conseqüências nem sempre maravilhosas...
A modernidade dos relacionamentos quebrou os grilhões matrimoniais infelizes, ao tempo em que propiciou uma liberdade aprisionada. “Ninguém é de ninguém”, porém, a espera e o desespero são de alguém. Enquanto um desfruta da total liberdade, outro se encarcera em um sentimento não correspondido.
Vivenciamos a era dos desejos desencontrados, para a qual parece ter sido feita a “quadrilha” de Drummond, a dissonância está apenas na modalidade de relacionamento. Já não se conjuga mais o verbo amar e sim o “ficar”. O pior é quando um dos “ficantes” tende a não passar e estaciona numa ilusão de conjugar o antigo verbo com um alguém que por sua vez o desconhece.
Vejamos um exemplo desse sentimento equivocado:
Ele atende o celular no meio da noite em algum lugar. “Posso fechar a porta?!” ela pergunta. “Estou muito ocupado, não sei que hora...” Ela interrompe “Só responda a pergunta!” ele do outro lado procura as palavras: “Pois é, eu não...” Ela outra vez interrompe: “Posso fechar a porta?” e por fim ele responde: “Pode!” Ela sequer explicou a que porta estava se referindo: se a da casa ou da vida e desligou...
Cansada de esperar inutilmente cantarolou Maria Bethânia: “Veja bem nosso caso é uma porta entreaberta, eu busquei a palavra mais certa...” Disse “não” ao seu lado carente e se foi... Com sua mala de sonhos inteiramente vazia e a certeza de que jamais abriria aquela porta. Sentia-se doente em conseqüência daquele amor “demente”, feito de sonos perdidos e sonhos roubados ... “Até quando?”
Um dia ele lembrou que, mesmo contra sua vontade, alguém estava a lhe esperar. Fez o percurso habitual e encontrou como sempre a porta entreaberta. Para sua surpresa ela não estava lá... Melhor para ele, visto que havia outras tantas portas abertas a lhe esperar.
E ela onde estaria ? Decerto numa clinica de recuperação.
Clinica de recuperação!?
Como os demais tipos de alucinógenos essa modalidade de relacionamento costuma causar dependência, por mais absurdo que possa parecer, a (o) dependente apesar de lutar bravamente, não consegue se reerguer, não antes de ir ao “fundo do poço” e amargar todas as formas de degradação moral.
A recuperação é um processo longo e doloroso. A primeira etapa consiste na tomada de consciência da perda total do amor próprio e da constatação do nível zero da auto-estima. A segunda fase – restauração desses sentimentos vitais - envolve a audição de músicas e leituras de textos de auto-ajuda e por fim a aceitação de “muletas”, dentre várias, destaca-se: mudança de visual, viagens, novas amizades... Enfim, algo que assegure a reinserção no convívio social.
Encerrado o processo de reabilitação, inicia-se o de readaptação, a difícil convivência com as seqüelas entre elas: misantropia, misofobia, misogamia, narcisismo, perfeccionismo, e síndrome de abandono. O que torna difícil, se não impossível, a reintegração à sociedade. Em último caso e também para prevenir a reincidência se faz necessário uma mudança de ambiente. Ah! Esses relacionamentos modernos e suas conseqüências quase sempre desastrosas...
Haja Freud para explicar e Graça Moura para entender!!!
Ana Maria Coutinho
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