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domingo, 29 de novembro de 2009

POETA QUE VAI... POESIA QUE VEM!

Picos, celeiro de literatos, segue ano após ano exportando talentos... Talvez por não abrigar em tão pouco espaço tanta poesia, ou por não dar o devido abrigo a quem a cria.
É cada vez mais freqüente a migração de picoenses inspirados e apaixonados por outros estados à procura de espaço – espaço para estudar, trabalhar, realizar-se, viver... Muitos são os companheiros de versos que nós upeanos deixamos ir. Ocupando os seus lugares restaram os versos mudos, que de quando em vez, emprestamos nossas vozes para torná-los presentes.
E como sugere Oswaldo Montenegro: “Faça uma lista dos grandes amigos/ Que você mais via há dez anos atrás. / Quantos você ainda vê todo dia/ Quantos você já não encontra mais...” Fazemos a nossa lista de alguns anos atrás: Marta Moraes, Edivan Araújo, Deisy Fernanda, Marconi Barros, Firmino Libório, Andrews Marcelino, Ronaldo Gomes, Tarciso Coelho...
Marconi Barros é um poeta picoense nato, atualmente bacharel em Direito e funcionário do Banco do Brasil de Araguaína-TO. Quando aqui residia, era mais um autor de inspirados versos mudos, versos que teimavam em sair da gaveta, mas que a falta de apoio e incentivo à cultura literária (por parte do poder público local) tratava de engavetá-los em seguida.
Agora os versos do poeta migram via correio eletrônico até nós, como brisa leve com cheiro de “gardênia”. Ecoam suavemente no Vale de Mel, tal qual uma cantiga de amor/desamor, fertilizando o seu berço numa manhã de “inverno”. Chuva fina de melancolia, fazendo ressurgir no asfalto o pequeno jardim “Do Cantinho” e espalha no ar o perfume da saudade.
No poema: “Coloniais”, o poeta derrama em versos seu olhar às mazelas resultantes do processo invasivo da nossa colonização. Nos poemas: “Num Dia de Muita Tristeza” e “Inverno” ele se reporta a um universo intimista que apenas aqueles que compartilham deste universo conseguem alcançar. Apreciemos:

Coloniais

Chego-lhe aos ouvidos
Última divisa
Do silêncio
Dum eco
Semeado no esquecido
Como vaga
Docemente
Quebrada no continente

Olho-me
Como a um arquipélago
Tendo virgens os pés
Posto que alado
Desde sempre
Caio-me sobre mim
No abismal mar dos degredados
Na taba nua de querubins estrelados
Nos poleiro negro gozando a noite
E gemendo a aurora
Aos teus sentidos
Chego-te
Quando dormes
Madeira,
Ouro,
Açúcar,
Café,
Mulheres...
Sangue
Suor
E Cor ...
(Marconi Barros)

Num Dia de Muita tristeza
Quem sempre se achou
Num épico vivendo
Descobriu-se reles
Personagem
Dum livro esquecido
Se não
Inescrito...
Duma rua que já não há
Um menino que não houve
Que é de meu pai?
De meus avós, digam!
Do frescor da orvalhada
Gardênia hoje em cãs?
Nos cantos
Foi onde
Em vão me pus (Rua do Cantinho, meu berço em niño)
Cirandas,
Cinderelas
Encontrar-me
Quem sabe?
Numa
Rua
Nula...
Aos trinta e três agostos
Aporto no Cais
‘Quinda vai começar...

(Marconi Barros)

INVERNO

Reclinado sobre o espelho
Olho
Não vejo:
- Quem sois, Senhor? Quem sois?
A moeda do sopro
Rugas,
O não correr
O saber-se composto em dó
Olhos em neblina
Dedos curvos
Um nome, uma imagem, um gosto, um gesto tudo lhe fugiu... tudo lhe fugiu...
Uma constelação de lembranças
Comprimem o peito
A felicidade mora no ontem...
E a tristeza reside
Na claridade com que se percebe
Que o sol
Não retornará
Ouviste?
Não voltará!

(Marconi Barros)

Parabéns poeta!
“Que venha a nós os vossos versos”
Em “livros inescritos”, escritos ou via Internet.
Poeta que vai, poesia que vem! Amém!

(P.S: Agradeço a Mercês e Nídia / Marconi, Maria José e Filhos, o gentil tratamento a mim dispensado por ocasião da minha estada em Araguaína-TO. Retornarei... E juntos pincelaremos essa tela em vidro fosco – uma palmeira sob a chuva – com as cores douradas do Vale de Mel).

Um comentário:

Unknown disse...

É doce o fel que nos instiga a tecer o fio da literatura que lembra arquitetura que ameninadamente vira travessura e se esvai em pura veia de poética doçura ...

então tia, bombeemos as dracmas de sangue para que o coração da nossa união do vale do mel não se perca na tristeza de ver a nossa corrente desfeita e a lista perecer de saudade matreira.

Um grande abraço,

Marta Moraes