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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Carregando água na peneira em São João da Varjota

FORMAÇÃO DE SÃO JOÃO DA VARJOTA
QUARTO ENCONTRO - 19 DE SETEMBRO DE 2009.


Hoje é sábado, mas, não é um sábado qualquer... Hoje é dia de carregar água em São João da Varjota, não do modo convencional, mas sim de uma forma inusitada. Hoje seremos muitos carregando água na peneira!!!
Os contratempos surgiram juntos com a manhã. O condutor da van não nos esperou, depois de alguns minutos de estresse total conseguimos uma carona com os professores de Paquetá.
Abrimos nossos trabalhos com os procedimentos habituais: acolhida, reflexão e prosseguimos com a exibição de vídeos que ficaram pendentes no encontro anterior. Percebi que os vídeos agradaram muito a maior parte da turma, porém, duas ou três professoras pareciam indiferentes, isso intensificou a ansiedade que sentia para adiantar a parte teórica, pois, assim como a maioria dos cursistas ainda fico ansiosa pelos experimentos... Some-se a essa preferência pela prática o fato de hoje ser dia de realizar uma verdadeira proeza.
Por volta das dez horas fizemos uma pausa para o lanche, que por sinal, está cada vez mais variado e apetitoso. Após o intervalo para o lanche fizemos então a abordagem do tema: “O ar o cheiro da Terra”. E como eu havia previsto o conteúdo de matemática ficou para ser explorado à tarde.
Às doze horas encerramos os trabalhos e fizemos a leitura dos recados dos admiradores secretos. Interessante é que o pessoal fica até depois do horário para receber seus recados.
Às treze horas retornamos, para alegrar os cursistas e espantar o sono habitual desse horário, Lêda e Elisiana fizeram umas dinâmicas. “Na sequência abordamos o capítulo um do caderno de Matemática: “Representando quantidades”, seguido de dois slides: “A beleza dos números” e “Porque é um, 2 é dois ...” relacionado à nomenclatura convencionada aos números naturais.
Enfim, chega o grande momento! Momento de experimentar... A pressão atmosférica em ação: verificada ao virar um copo cheio de água e o papel reter a água; e ao quebrar o palito de churrasco sob um jornal e ainda no experimento “água e ar não ocupam o mesmo espaço”.
Os professores demonstraram grande interesse pela confecção do pulmão, e eu não via a hora de carregar água na peneira.
Eis que chega o tão esperado momento... Fiz uma referência à poesia de Manoel de Barros: “O menino que carregava água na peneira”.
... O menino fazia prodígio.
Até fez uma pedra da flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
"A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Vai carregar água na peneira a vida toda
Você vai encher os
vazios com as suas peraltagens
E algumas pessoas
vão te amar por seus despropósitos." (BARROS, 2001)

Esta experiência, apresentada no curso de formação de tutores pela Dra. Deisy Munhoz, carrega em si um aspecto artístico traduzido na poética de Manoel de Barros, que inevitavelmente transporto para o nosso fazer pedagógico. Tecemos sonhos cotidianamente acerca da construção do porvir, pois, enxergamos nos educando os fazedores do amanhã, respectivamente é atribuído ao educador o papel de co-autor da história e construtor de uma nação.
Refletir essas atribuições é constatar quão delicada e complexa é a tarefa de educar, e a similitude desta tarefa com o experimento, que é simultaneamente singelo e implexo calcado no rigor da ciência. Assim é o magistério; ação sublime concebida como tarefa de sujeitos. Entretanto exige do educador uma busca constante de informação e formação de modo a compor, assim como as moléculas (a contextura que suporta água) o perfil de formador, sem perder de vista a poesia existente em tudo que nos cerca e em cada ser em formação. Tomo a liberdade de relevar a sugestão de Rubem Alves:

"(...) porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver_ eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana."

Depois de carregar água na peneira só nos restava os procedimentos finais, tais como: leitura de recadinhos, elaboração de registros e despedidas. Todavia, é mister ressaltar, que este experimento não finda ai, ao contrário, principia... Creio ser impossível a quem carrega água na peneira sair imune a este universo de meditações por esta proeza suscitado.


BARROS, Manoel. O menino que carregava água na peneira. In: Palavras de encantamento. São Paulo. Moderna, 2001.
Entusiasmo criador; inspiração. 4. Aquilo que desperta o sentimento do belo. 5. O que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas. 6. Encanto, graça, atrativo. (FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, Positivo Informática LTDA, 2004)
ALVES, Rubem. A complicada arte de ver, disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u947.shtm. Acesso em 25.09.09 às 00h44min.

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