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quarta-feira, 7 de março de 2012

EDUCAÇÃO A SERVIÇO DO HOMEM “NATUREZA E TRANSCENDÊNCIA”

A educação se constitui historicamente em cultura e formação, prática através da qual se torna possível todas às transformações resultantes da intervenção humana.
Paradoxalmente ao educar e educar-se o ser humano liberta e liberta-se... Aliena e aliena-se... É oprimido e opressor... Acultura-se e provoca a aculturação.  Este interminável paradoxo suscita inúmeras reflexões acerca dos caminhos e descaminhos da educação. Do que se deve ensinar, aprender e apreender no ambiente educativo propriamente dito.
Wittman (2004) assegura que aprender é algo inerente ao homem, que também é natureza. Alguns conhecimentos são espontâneos, porém, na interação muito se pode e deve conhecer, visto que, por meio da construção e reconstrução dos conhecimentos se efetiva a intervenção no curso natural, neste contexto o homem pode por fim transcender.

Aprendemos quase tudo o que fazemos e somos. A educação serve ao ser humano que é natureza e transcendência. O ser humano é natureza em tudo que é e faz e não aprendeu, não resultou da interação humana. [...] o ser humano é transcendência porque intervém no curso natural das coisas e interfere, intervém e muda a natureza (WITTMAN, 2004, p. 15)

A educação centrada na acomodação do indivíduo à sociedade e formação profissional, nos moldes da reprodução, tem sido duramente criticada ao longo dos anos. Este paradigma educacional opressor, que cerceia projetos e limita a potencialidade humana, não cabe na instância democrática brasileira, que no período limítrofe entre os séculos XX e XXI passou a vislumbrar a formação plena do ser.
A história da educação brasileira retrata as atrocidades de uma ensinagem autoritária, elitista e excludente. Considerando ser a escola ambiente primordial da educação, há que se refletir sobre o verdadeiro processo de ensino-aprendizagem incorporado pelas instituições educacionais que vislumbram uma gestão democrática.
Pouco ou nada pode contribuir as políticas educacionais bem intencionadas e ancoradas nos mais belos discursos da Política Educacional, se a transformação não florescer no campo institucional específico, ou seja, no interior da própria escola. 
Vieira (2009) ressalta a diferença entre Política Educacional e políticas educacionais. Sendo a primeira, uma Ciência Política em sua aplicação ao caso concreto da educação, e a segunda se refere às múltiplas políticas públicas que se propõem a resolver as questões educacionais.  Desta forma, pode-se afirmar que a Política Educacional é a reflexão teórica sobre políticas educacionais.
Difícil será a Política Educacional refletir as políticas educacionais sem que estas se direcionem as especificidades do contexto educativo com ênfase no arcabouço do cotidiano escolar em sua diversidade de sujeitos. Considerando ser a educação uma tarefa do sujeito, este sujeito é também chamado a atuar politicamente no processo de reconstrução e gestão da escola, para que esta cumpra o seu papel político e social.
É pertinente a observação de Vieira (2009) no que concerne a visão equivocada de se tomar a formulação de políticas como domínio exclusivo do Poder Público, visto que, é no trânsito entre a sociedade política e civil que se tece o ideário da base de ações que podem ir ao encontro, e não de encontro, do bem comum.

As políticas de educação pode se manifestar em qualquer nível e não apenas no âmbito do governo central. Assim, são objetos de interesse e de análise da política educacional as iniciativas do Poder Público, em suas diferentes instâncias (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e espaços (órgãos centrais e intermediários do sistema e unidades escolares) sua esfera de abrangência é ampla. [...] (Op. cit. p. 24).

Partindo deste pressuposto, fica evidente que a instituição escolar não pode prescindir da autonomia em relação à política educacional que abranja a gestão de recursos, funcionalidade de espaço, abordagem de conteúdos e metodologias condizentes com a realidade na qual se insere. Desta forma, contribuirá efetivamente para que ocorra a aprendizagem significativa.
Sem adentrar o mérito da discussão sobre escola tradicional e escola nova, pode-se inferir que a escola arraigada no autoritarismo, cujas ações administrativas estão na esfera da centralidade de poder, não opera a emancipação do sujeito, portanto, não corresponde aos anseios do educando como protagonista do processo educativo.
Em consonância com Wittman (2004), a escola é determinante enquanto espaço formativo, posto que, ela é vital no processo de maturação e de formação do devir humano, logo, a escola se configura como útero social e se constitui como ambiente mediador entre as pessoas e a cultura de seu tempo e espaço histórico-geográfico. 
Na escola são tecidas as diferentes relações sociais que resultam em desenvolvimento de habilidades e competências nas quais se firmam o saber. Apreciar, vivenciar e compartilhar são componentes da formação humana que a escola deve propiciar ao sujeito, para que ele possa construir, destruir, reconstruir, enfim, apropriar-se do conhecimento.
A gama de possibilidades de construção saberes no interior da instituição escolar conduz o ser humano à transcendência, ou seja, a tessituras de novos saberes e tecitura de uma nova história. Considerando que, “transcendência, fundamentalmente, é essa capacidade de romper todos os limites, superar e violar os interditos projetar-se sempre num mais além”.  (BOFF, 2000, p. 8).
A educação que emancipa e aquela que faz suscitar o pensamento crítico que incita a pesquisa e inspira a projeção. Neste ambiente, o cerne da prática educativa é o educando, a ele compete transcender, romper com as amarras ideológicas de uma educação revestida como produto, cotejar, contestar, protestar e projetar livremente.
A educação democrática pressupõe prioritariamente a liberdade de educar-se. Logo, compete à escola acolher os anseios libertários do educando, e simultaneamente conscientizar que a liberdade remete ao compromisso e a co-responsabilidade. Para que enfim, se possa vislumbrar uma educação para a transcendência


REFERÊNCIAS
BOFF, Leonardo. Tempo de Transcendência. Sextante, 2000. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/2951200/Tempo-de-Transcendencia-Leonardo-Boff>.

VIEIRA, Sofia Lerche. Educação básica política e gestão da escola. Brasília: Líber Livro, 2009.

WITTMANN, Lauro Carlos. Gestão democrática. Curitiba: Ibpex, 2007.  

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