A
educação se constitui historicamente em cultura e formação, prática através da
qual se torna possível todas às transformações resultantes da intervenção
humana.
Paradoxalmente
ao educar e educar-se o ser humano liberta e liberta-se... Aliena e
aliena-se... É oprimido e opressor... Acultura-se e provoca a aculturação. Este interminável paradoxo suscita inúmeras
reflexões acerca dos caminhos e descaminhos da educação. Do que se deve
ensinar, aprender e apreender no ambiente educativo propriamente dito.
Wittman
(2004) assegura que aprender é algo inerente ao homem, que também é natureza.
Alguns conhecimentos são espontâneos, porém, na interação muito se pode e deve
conhecer, visto que, por meio da construção e reconstrução dos conhecimentos se
efetiva a intervenção no curso natural, neste contexto o homem pode por fim
transcender.
Aprendemos quase tudo o que fazemos e
somos. A educação serve ao ser humano que é natureza e transcendência. O ser humano
é natureza em tudo que é e faz e não aprendeu, não resultou da interação
humana. [...] o ser humano é transcendência porque intervém no curso natural
das coisas e interfere, intervém e muda a natureza (WITTMAN, 2004, p. 15)
A
educação centrada na acomodação do indivíduo à sociedade e formação
profissional, nos moldes da reprodução, tem sido duramente criticada ao longo
dos anos. Este paradigma educacional opressor, que cerceia projetos e limita a
potencialidade humana, não cabe na instância democrática brasileira, que no
período limítrofe entre os séculos XX e XXI passou a vislumbrar a formação
plena do ser.
A
história da educação brasileira retrata as atrocidades de uma ensinagem
autoritária, elitista e excludente. Considerando ser a escola ambiente primordial
da educação, há que se refletir sobre o verdadeiro processo de
ensino-aprendizagem incorporado pelas instituições educacionais que vislumbram
uma gestão democrática.
Pouco
ou nada pode contribuir as políticas educacionais bem intencionadas e ancoradas
nos mais belos discursos da Política Educacional, se a transformação não
florescer no campo institucional específico, ou seja, no interior da própria
escola.
Vieira
(2009) ressalta a diferença entre Política Educacional e políticas
educacionais. Sendo a primeira, uma Ciência Política em sua aplicação ao caso
concreto da educação, e a segunda se refere às múltiplas políticas públicas que se propõem a resolver as questões
educacionais. Desta forma, pode-se
afirmar que a Política Educacional é a reflexão teórica sobre políticas
educacionais.
Difícil
será a Política Educacional refletir as políticas educacionais sem que estas se
direcionem as especificidades do contexto educativo com ênfase no arcabouço do
cotidiano escolar em sua diversidade de sujeitos. Considerando
ser a educação uma tarefa do sujeito, este sujeito é também chamado a atuar
politicamente no processo de reconstrução e gestão da escola, para que esta
cumpra o seu papel político e social.
É pertinente a observação de Vieira (2009) no que concerne a visão
equivocada de se tomar a formulação de políticas como domínio exclusivo do
Poder Público, visto que, é no trânsito entre a sociedade política e civil que
se tece o ideário da base de ações que podem ir ao encontro, e não de encontro,
do bem comum.
As políticas de educação
pode se manifestar em qualquer nível e não apenas no âmbito do governo central.
Assim, são objetos de interesse e de análise da política educacional as
iniciativas do Poder Público, em suas diferentes instâncias (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios) e espaços (órgãos centrais e intermediários do
sistema e unidades escolares) sua esfera de abrangência é ampla. [...] (Op.
cit. p. 24).
Partindo deste pressuposto, fica evidente que a instituição
escolar não pode prescindir da autonomia em relação à política educacional que
abranja a gestão de recursos, funcionalidade de espaço, abordagem de conteúdos
e metodologias condizentes com a realidade na qual se insere. Desta forma,
contribuirá efetivamente para que ocorra a aprendizagem significativa.
Sem adentrar o mérito da discussão sobre escola tradicional e
escola nova, pode-se inferir que a escola arraigada no autoritarismo, cujas
ações administrativas estão na esfera da centralidade de poder, não opera a
emancipação do sujeito, portanto, não corresponde aos anseios do educando como
protagonista do processo educativo.
Em consonância com Wittman (2004), a escola é
determinante enquanto espaço formativo, posto que, ela é vital no processo de
maturação e de formação do devir humano, logo, a escola se configura como útero
social e se constitui como ambiente mediador entre as pessoas e a cultura de seu
tempo e espaço histórico-geográfico.
Na
escola são tecidas as diferentes relações sociais que resultam em
desenvolvimento de habilidades e competências nas quais se firmam o saber.
Apreciar, vivenciar e compartilhar são componentes da formação humana que a
escola deve propiciar ao sujeito, para que ele possa construir, destruir,
reconstruir, enfim, apropriar-se do conhecimento.
A
gama de possibilidades de construção saberes no interior da instituição escolar
conduz o ser humano à transcendência, ou seja, a tessituras de novos saberes e
tecitura de uma nova história. Considerando que, “transcendência,
fundamentalmente, é essa capacidade de romper todos os limites, superar e
violar os interditos projetar-se sempre num mais além”. (BOFF, 2000, p. 8).
A
educação que emancipa e aquela que faz suscitar o pensamento crítico que incita
a pesquisa e inspira a projeção. Neste ambiente, o cerne da prática educativa é
o educando, a ele compete transcender, romper com as amarras ideológicas de uma
educação revestida como produto, cotejar, contestar, protestar e projetar
livremente.
A
educação democrática pressupõe prioritariamente a liberdade de educar-se. Logo,
compete à escola acolher os anseios libertários do educando, e simultaneamente
conscientizar que a liberdade remete ao compromisso e a co-responsabilidade. Para
que enfim, se possa vislumbrar uma educação para a transcendência
REFERÊNCIAS
BOFF,
Leonardo. Tempo de Transcendência.
Sextante, 2000. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/2951200/Tempo-de-Transcendencia-Leonardo-Boff>.
VIEIRA,
Sofia Lerche. Educação básica política e
gestão da escola. Brasília: Líber Livro, 2009.
WITTMANN,
Lauro Carlos. Gestão democrática.
Curitiba: Ibpex, 2007.
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