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domingo, 24 de outubro de 2010

Agradecimentos

Agradeço à jornalista Luciana Santos pela referência na coluna "Club Vip" a mim direcionada.
Espero corresponder ao perfil de "Professora" e merecer a homenagem.
Obrigada!!!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"PROFESSORA SIM, TIA NÃO"


Estava em casa pensando o que postar nos blogs para homenagear as colegas, quando chegou uma amiga, professora também, com um ramalhete de flores um presente pela passagem do nosso dia...
E começamos a conversar sobre as ideias de Demerval Savianni tecidas na obra E"scola e Democracia", refletimos sobre "a reprodução... a violência simbólica, "a teoria da curvatura da vara", as críticas que ele faz às teorias da educação, etc. Finalizando fizemos algumas reflexõe acerca da nossa prática pedagógica, das inquietações cotidianas e combinamos um jantar para comemorar o nosso dia.
Por volta das vinte e três horas minha amiga se despediu. Voltei a conjecturar sobre o escrever aqui...
Lembrei do que me disse um conceituado médico quando o procurei há uma semana atrás no seu consultório. Como é de praxe o bom médico estabelece um diálogo antes de examinar o paciente. Em meio à conversa, antes mesmo de ouvir o meu relatório de queixas, ele me perguntou qual era a minha profissão. De imediato disse-lhe: "Sou professora". Com a simpatia que lhe é peculiar ele arrematou: "Sofressora", acrescentando que a maioria de seus pacientes são professores...
Refletindo sobre a longa conversa que tive com o médico e com muitas dúvidas em relação o que escrever que não trasparecesse revolta ou autopiedade resolvi. "PROFESSORA SIM, TIA NÃO" 
Rapidamente procurei o livro de Paulo Freire e faço uso das palavras dele para prestar uma homenagem a esta classe.
Professora sim, tia não”.
“No fundo, o discurso sintético ou simplificado, mas bastante comunicante, poderia, de forma ampliada, ser assim feito: minha intenção neste texto é mostrar que a tarefa do ensinante, que é também aprendiz, sendo prazerosa é igualmente exigente. Exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo. É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não aos outros, mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar. [...] 
É preciso ousar, no sentido pleno desta palavra, para falar em amor sem temer ser chamado de piegas, de meloso, de a-científico, senão de anti-científico. É preciso ousar para dizer, cientificamente e não bla-bla-blantemente, que estudamos, aprendemos, ensinamos, conhecemos com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e também com a razão crítica. Jamais com, esta apenas
É preciso ousar para jamais dicotomizar o cognitivo 'do emocional É preciso ousar para ficar ou permanecer ensinando por longo tempo nas condições que conhecemos, mal pagos, desrespeitados e resistindo ao risco de cair vencidos pelo cinismo. É preciso ousar, aprender a ousar, para dizer não à burocratização da mente a que nos expomos diariamente. É preciso ousar para continuar quando às vezes se pode deixar de fazê-la, com vantagens materiais.[...]
Nada disso, porém, converte a tarefa de ensinar num que--fazer de seres pacientes, dóceis, acomodados, porque portadores de missão tão exemplar que não pode se conciliar com atos de rebeldia, de protesto, como greves, por exemplo. A tarefa de ensinar é uma tarefa profissional que, no entanto, exige amorosidade, criatividade, competência científica mas recusa a estreiteza cientificista, que exige a capacidade de brigar pela liberdade sem a qual a própria tarefa fenece.
O que me parece necessário na tentativa de compreensão crítica do enunciado professora, sim; tia, não, se não é opor a professora à tia não é também identificá-las ou reduzir a professora à condição de tia. A professora pode ter sobrinhos e por isso é tia da mesma forma que qualquer tia pode ensinar, pode ser professora, por isso, trabalhar com alunos. Isto não significa, porém, que a tarefa de ensinar transforme a professora em tia de seus alunos da mesma forma como uma tia qualquer não se converte em professora de seus sobrinhos por ser tia deles. 
Ensinar é profissão que envolve certa tarefa, certa militância, certa especificidade no seu cumprimento enquanto ser tia é viver uma relação de parentesco. Ser professora implica assumir uma profissão enquanto não se é tia por profissão. Se pode ser tio ou tia geograficamente ou afetivamente distante dos sobrinhos mas não se pode ser autenticamente professora, mesmo num trabalho a longa distância, “longe” dos alunos.
O processo de ensinar, que implica o de educar e vice-versa, envolve a “paixão de conhecerque nos insere numa busca prazerosa, ainda que nada fácil. Por isso é que uma das razões da necessidade da ousadia de quem se quer fazer professora, educadora, é a disposição pela briga justa, lúcida, em defesa de seus direitos como no sentido da criação das conceições para a alegria na escola, um dos sonhos de Snyders
Recusar a identificação da figura do professor com a da tia não significa, de modo algum, diminuir ou menosprezar a figura da tia, da mesma forma como aceitar a identificação não traduz nenhuma valoração à lei. “Significa, pelo contrário, retirar algo fundamental  professor: sua responsabilidade profissional de que faz parte a exigência política por sua formação permanente...” Paulo Freire

Depois de tão magníficas, profundas e pertinentes reflexões só me resta dizer a você amiga professora e amigo professor que esta nossa tarefa pode parecer sofrida, porém, é sublime. Parabéns, não tão somente pelo seu dia, mas, por todos os dias e noites dedicadas a missão de educar!!! 
  
Flores para os professores